Excertos do discurso de Aquilino Ribeiro na Sociedade Portuguesa de Escritores, 1963

"Morro insatisfeito. A minha obra é imperfeita e bem o sinto". (...) "A Perfeição, materializada na obra humana, no livro, na estátua, na partitura, é uma hipérbole celeste. Nunca se consegue, e quando se julga conseguir é miragem." (...) "Cultivem a inquietação como uma fonte de renovamento. E, enquanto vivermos, façamos de conta que trabalhamos para a eternidade e que tudo o que é produção do nosso espírito fica gravado em bronzes para juízes implacáveis julgarem à sua hora".
in, Revista nº64 do Jornal do Fundão.

terça-feira, 11 de maio de 2010

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Entre Miquelina e Romarigães

Após ter-se apaixonado pela Senhora do Amparo, instalou-se na pensão Miquelina de onde saía todos os dias para acompanhar as obras da Casa Grande de Romarigães. Logo que os trabalhos foram avançando, não hesitou em abrigar-se num recanto do edifício, onde à noite chegou a dormir lado a lado com os trabalhadores. Na maior parte das vezes era ele quem fazia a sua própria comida, cujo leite das vacas do caseiro tomava em primeiro lugar. Antes de a casa ser minimamente habitável, Aquilino Ribeiro pernoitava na Pensão Miquelina, onde à hora do jantar, trocava impressões com o consorte da Miquelina, Senhor João, antigo marinheiro e apoiante da República. No café do Senhor Alberto Pires, também situado em Paredes de Coura, mantinha uma tertúlia regular com o Dr. Oliveira, Dr. Fonseca, Dr. Marrana, Dr. Regueiro e outros comerciantes da Vila.

Chegada a Paredes de Coura

Mas foi dois anos mais tarde, em 1935, que Aquilino Ribeiro chegou no seu carro, um Morris, acompanhado por um conterrâneo, o senhor Raul Gomes Aparicio, dirigiu-se a Moledo para levar a sua esposa e o seu filho que estavam lá a passar férias, numa casa de veraneio de Bernardino Machado. Seguiram todos para Paredes de Coura, onde ficaram hospedados no Palacete de Mantelães pertencente ao avô da esposa, Conselheiro Miguel Dantas, sito em Formariz, uma freguesia do concelho de Paredes de Coura. Nesse dia, o escritor Aquilino tomou contacto com Paredes de Coura pela primeira vez. Esta terra evocou-lhe a Beira onde ele nasceu.
Mas, só após o falecimento do sogro é que Aquilino tomou contacto directo com Paredes de Coura. A sua esposa herdou propriedades em Romarigães, entre as quais a Quinta da Senhora do Amparo. Esta última ligou o escritor de corpo e alma e foi a fonte de inspiração do seu romance "A Casa Grande de Romarigães".

terça-feira, 4 de maio de 2010

Aquilino Ribeiro e Paredes de Coura

Foi em 1933, que Bernardino Machado, sogro de Aquilino, escreveu uma carta a convidar o genro para uma visita a Paredes de Coura.

Transcreve-se essa missiva escrita em La Guardia, a 14 de Fevereiro 1933:
" Meu Caro Aquilino:
Muito lhe agradecemos a visita da Gigi e do Lininho.
Estes dias teem sido de festa.Escuso de lhe dizer que o seu belo filho tem sido o encanto de todos. Agóra mesmo, tão inteligente como serviçal, me está carinhosamente ajudando a mandar para o correio o meu ultimo folhêto anti-ditatorial. É já um prestantissimo correligionário. Não se resolve a vir até cá?
A nossa satisfação seria completa. E veria de passagem o nosso Minho, de que devia certamente de gostar muito, digo-o sem desfazer na sua Beira. Á volta, poderia mesmo ir com a Gigi e o Lininho até Paredes de Coura, da qual dizia o poeta António Pereira da Cunha, a quem Castilho ofereceu o livro terceiro das Geórgicas, que sendo o que ha de melhor em Portugal e sendo Portugal o que ha de melhor na Europa e a Europa o que ha de melhor no mundo, é sem duvida alguma a preciosidade maior de todo o mundo. Minha mulher e alguma da minhas filhas acompanha-los-iam. Tenho melhorado desde a chegada da Gigi: mais ainda me restabeleceria abraçando-o pessoalmente. Nossos Melhores cumprimentos a sua boa Mãe
Todo seu

Bernardino Machado "

Homenagens e prémios de Aquilino Ribeiro

Em 1933, foi-lhe atribuído o Prémio Ricardo Malheiros.
Entre os meses de Março e de Junho de 1952, no Brasil recebe homenagens de instituições, escritores e figuras públicas.
Em 22 de Julho de 1952, é condecorado pelo Governo brasileiro, pelas mãos do ministro das Relações Exteriores, João Mendes Fontoura, com a comenda do Cruzeiro do Sul.
Em 1960, o Professor Catedrático da Faculdade de Letras de Lisboa, Francisco Vieira de Almeida, propõe Aquilino como candidato ao Prémio Nobel da Literatura.
Em 1963,a Sociedade Portuguesa de Escritores, presidida por Ferreira de Castro, nomeia uma comissão para comemorar o 50º aniversário da publicação da primeira obra de Aquilino – Jardim das Tormentas.
Foi ainda homenageado pela Casa das Beiras.
Em 2007, a Assembleia da República aprovou uma homenagem, incluindo a transferência do corpo com honras de Estado para o Panteão Nacional de Santa Engrácia.

Aquilino e as suas obras

1907 - A Filha Do Jardineiro (folhetim)
1913 - Jardim das Tormentas (contos).
1918 - A Via Sinuosa (romance).
1919 - Terras do Demo (romance).
1920 - Filhas de Babilónia (novelas).
1922 - Estrada de Santiago (novelas); incluía O Malhadinhas.
1924 - Romance da Raposa (romancinho infantil).
1926 - Andam Faunos pelos Bosques (romance).
1930 - O Homem que Matou o Diabo (romance).
1932 - Batalha sem Fim (romance).
1932 - As Três Mulheres de Sansão (novelas). -
1933 - Maria Benigna (romance).
1934 - É a Guerra (diário).
1935 - Alemanha Ensanguentada (caderno dum viajante).
1935 - Quando ao Gavião Cai a Pena (contos).
1936 - Anastácio da Cunha, o Lente Penitenciado (vida e obra).
1936 - Arca de Noé III Classe (contos para as crianças).
1936 - Aventura Maravilhosa de D. Sebastião (romance).
1937 - S. Banaboião Anacoreta e Mártir (romance).
1938 - A Retirada dos Dez Mil.
1939 - Mónica (romance).
1939 - Por Obra e Graça (estudos).
1940 - Oeiras (monografia).
1940 - Em Prol de Aristóteles.
1940 - O Servo de Deus e a Casa Roubada (novelas).
1942 - Os Avós dos Nossos Avós (história).
1943 - Volfrâmio (romance).
1945 - Lápides Partidas (romance).
1945 - O Livro do Menino Deus (o Natal na história religiosa e na etnografia).
1946 - Aldeia (terra, gente e bichos).
1947 - O Arcanjo Negro (romance).
1947 - Caminhos Errados (novelas).
1947 - Constantino de Bragança, VII Vizo-Rei da Índia (história).
1948 - Cinco Réis de Gente (romance).
1948 - Uma Luz ao Longe (romance).
1949 - Camões, Camilo, Eça e Alguns Mais (estudos de crítica histórico-literária).
1949 - O Malhadinhas (edição autónoma).
1950 - Luís de Camões, Fabuloso, Verdadeiro (ensaio).
1951 - Geografia Sentimental (história, paisagem, folclore).
1951 - Portugueses das Sete Partidas (viajantes, aventureiros, troca-tintas).
1952 - Leal da Câmara (vida e obra).
1952 - O Príncipe Perfeito.
1952 - Príncipes de Portugal. Suas grandezas e misérias (história).
1953 - Arcas Encoiradas (estudos, opiniões, fantasias).
1954 - O Homem da Nave (serranos, caçadores e fauna vária).
1954 - Humildade Gloriosa (romance).
1955 - Abóboras no Telhado (crónica e polémica).
1957 - A Casa Grande de Romarigães (crónica romanceada).
1957 - O Romance de Camilo (biografia e crítica).
1958 - Quando os Lobos Uivam (romance).
1959 - Dom Frei Bartolomeu. As três desgraças teologais (legenda).
1959 - D. Quixote de la Mancha.
1959 - Novelas Exemplares.
1960 - No Cavalo de Pau com Sancho Pança (ensaio).
1960 - De Meca a Freixo de Espada à Cinta (ensaios ocasionais).
1963 - Tombo no Inferno. O Manto de Nossa Senhora (teatro).
1963 - Casa do Escorpião (novelas).
1967 - O Livro de Marianinha (lengalengas e toadilhas em prosa rimada).
1974 - Um Escritor Confessa-se (memórias).

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Definitivamente em Portugal

Em 1932, entra clandestinamente em Portugal e vive algum tempo em Abravezes, Viseu. Entretanto é amnistiado e fixa-se na Cruz Quebrada. No ano seguinte instala-se o “Estado Novo” de Salazar e no mesmo ano, Aquilino Ribeiro recebe o prémio Ricardo Malheiros, da Academia das Ciências de Lisboa pela obra publicada 1932, As Três Mulheres de Sansão. Entretanto as conspirações e as perseguições tinham acalmado e o escritor dedica-se plenamente à escrita.
Em 1935, é eleito sócio correspondente da Academia das Ciências, da qual se tornará sócio efectivo em 1957. Por estes anos estabelece amizade com o médico professor universitário Francisco Pulido Valente, no consultório deste e à porta da Bertrand, editora de Aquilino. Reunia-se nestes locais a famosa tertúlia figurada na pintura de Abel Manta, composta por Aquilino Ribeiro, Pulido Valente, Carlos Olavo Ramada Curto, Ribeiro dos Santos, Mário de Alenquer, Lopes Graça, Manuel Mendes, Sebastião Costa, Câmara Reis, Abel Manta e Alberto Candeias. Os temas abordados nessas conversas animadas variavam entre a recorrente crise política do País e do Mundo, e a cultura daqueles tempos.

O segundo casamento

Em Junho 1929, casa pela segunda vez, com D. Jerónima Dantas Machado, filha de Bernardino Machado, presidente da Republica deposto por Sidónio Pais, exilado em Paris. O consórcio teve lugar na Mairie De Montrouge e seguem depois para o sul de França, Ustaritz e em seguida Baiona. Nesta última cidade que em Abril de 1930, nasce o seu único filho deste matrimónio, Aquilino Ribeiro Machado. Entretanto em Portugal, Aquilino Ribeiro é julgado e condenado à revelia pelo Tribunal da Ditadura Militar que governa o País. Ainda no mesmo ano publica O Homem Que Matou O Diabo, um romance que dedica à sua esposa. No ano seguinte, passa a residir com a família na Galiza, primeiro em Vigo, depois em Tui.

terça-feira, 27 de abril de 2010

“Homem de Acção”

Já em Portugal, Aquilino Ribeiro, encontra-se dividido entre a escrita ficcional e a escrita cronista para a imprensa, o trabalho de professor no Liceu Camões, onde permanece durante três anos, e posteriormente, o cargo de segundo bibliotecário na Biblioteca Nacional a convite de Raul Proença. Este posto dá-lhe a possibilidade de alimentar o seu gosto pelo livro antigo.
Para além disso, em conjunto com colegas de trabalho, continua a desenvolver uma actividade cívica que vai ter a sua expressão mais visível na revista Seara Nova, publicação preponderante quer na difusão dos ideais republicanos quer mesmo no evoluir da vida política da I Republica. Mostrando mais uma vez a sua faceta de “Homem de Acção”, Aquilino manifesta-se em 1927, na revolta contra a ditadura militar consequente ao golpe de 28 de Maio de 1926. Devido a esta manifestação é demitido da Biblioteca Nacional e refugia-se em Paris. Regressa a Portugal, refugiando-se na Soutosa. Morre a sua primeira esposa Grete Tiedemann. Em 1928, envolve-se numa acção anti-regime do Regimento de Pinhel, mas é capturado e levado para a prisão de Fontelo em Viseu. Consegue novamente evadir-se, esconde-se nas serras beirãs e após jornadas difíceis chega a Paris.

Entre Paris e Alemanha

Em 1908, já em Paris, Aquilino Ribeiro inscreve-se no curso de Filosofia de Sorbonne, onde tem a oportunidade de conhecer mestres como, George Dumas, André Lalande, Levy Bruhl, Durckeim, mas também contacta com a intelectualidade portuguesa que por motivos políticos se via forçada a viver fora de Portugal. Frequenta durante três anos a Faculdade de Letras de Sorbonne. No final de 1910, já proclamada a Republica, o escritor vem a Portugal. Mas logo regressa aos estudos. O curso, a política, os projectos editoriais que vai desenvolvendo com os companheiros de exílio, as crónicas que envia para Portugal, para publicação, nomeadamente na Ilustração Portuguesa e no jornal A Beira, a observação, as pesquisas de bibliófilo ainda lhe deixam tempo para escrever na biblioteca da Sainte Geneviève, perto de Sorbonne, o volume de contos Jardim das Tormentas. Durante esse período conhece Grete Tiedemann, uma alemã que viria a ser a sua primeira esposa. Em 1912, reside alguns meses na Alemanha, em Berlim e em Parchin. Ainda na Alemanha, casa com Grete em 1913. O casal regressa a Paris, onde naquele ano Aquilino estreia-se como novelista e publica Jardim das Tormentas, que dedica à sua esposa. Em 26 de Fevereiro de 1914, nasce o seu primeiro filho, Aníbal Aquilino Fritz Tiedemann Ribeiro. Em Agosto do mesmo ano, rebenta a I Guerra Mundial, Aquilino vê-se forçado a regressar a Portugal com a sua família mas ainda no mesmo ano volta para Paris.

Aquilino, o revolucionário.

Aquilino Ribeiro escrevia em conjunto com José Ferreira da Silva (ministro das Obras Públicas durante a I Republica), o folhetim “A filha do jardineiro”, uma ficção crítica às figuras do regime monárquico, a começar por D. Carlos e ao mesmo tempo de propaganda republicana.
Considerado, um verdadeiro “Homem de acção” que através da escrita e da participação em actividades, que mais tarde acabariam por levá-lo à cadeia.

De facto, em 1907, o escritor conhece Artur Augusto Duarte Luz de Almeida, fundador da Carbonária, ligando-se assim a esta sociedade secreta e como braço armado da Maçonaria, guarda no seu quarto na Rua do Carrião, dois caixotes com cargas explosivas. Em seguida devido ao mau manuseamento dá-se o rebentamento de explosivos guardados que provoca a morte de dois correligionários, Gonçalves Lopes (professor do liceu do Carmo) e Belmonte de Lemos (um adelo da Rua dos Franqueiros). Aquilino Ribeiro consegue sair ileso do seu quarto mas é detido e levado para a esquadra do Caminho Novo, a cadeia mais severa durante o regime franquista. A 12 de Janeiro de 1908, logra a evadir-se da prisão. Após viver durante alguns meses clandestinamente numas águas furtadas na Rua Nova do Almada em Lisboa, segue para Paris.

quarta-feira, 24 de março de 2010

De traquina a escritor

Aquilino Gomes Ribeiro nasceu a 13 de Setembro de 1885, em Carregal de Tabosa, concelho de Sernancelhe, filho de Mariana do Rosário Gomes e de Joaquim Francisco Ribeiro.
Embora os pais desejassem que o filho enveredasse pelo sacerdócio, este, enquanto criança, era considerado travesso e consta que ainda hoje se contam histórias sobre as suas traquinices.
Dez anos, após o seu nascimento, Aquilino entra no Colégio da Senhora da Lapa, onde conclui a 4ª classe.
Em 1900, é admitido no Colégio Roseira em Lamego, dois anos mais tarde vai para Viseu estudar filosofia e a 16 de Outubro transfere-se para o seminário de Beja para estudar Teologia. Em 1904 é expulso do mesmo por insubordinação.
Mas foi em 1906 que Aquilino Ribeiro foi viver para Lisboa onde iniciou a sua vida de escritor e jornalista.