Excertos do discurso de Aquilino Ribeiro na Sociedade Portuguesa de Escritores, 1963

"Morro insatisfeito. A minha obra é imperfeita e bem o sinto". (...) "A Perfeição, materializada na obra humana, no livro, na estátua, na partitura, é uma hipérbole celeste. Nunca se consegue, e quando se julga conseguir é miragem." (...) "Cultivem a inquietação como uma fonte de renovamento. E, enquanto vivermos, façamos de conta que trabalhamos para a eternidade e que tudo o que é produção do nosso espírito fica gravado em bronzes para juízes implacáveis julgarem à sua hora".
in, Revista nº64 do Jornal do Fundão.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Definitivamente em Portugal

Em 1932, entra clandestinamente em Portugal e vive algum tempo em Abravezes, Viseu. Entretanto é amnistiado e fixa-se na Cruz Quebrada. No ano seguinte instala-se o “Estado Novo” de Salazar e no mesmo ano, Aquilino Ribeiro recebe o prémio Ricardo Malheiros, da Academia das Ciências de Lisboa pela obra publicada 1932, As Três Mulheres de Sansão. Entretanto as conspirações e as perseguições tinham acalmado e o escritor dedica-se plenamente à escrita.
Em 1935, é eleito sócio correspondente da Academia das Ciências, da qual se tornará sócio efectivo em 1957. Por estes anos estabelece amizade com o médico professor universitário Francisco Pulido Valente, no consultório deste e à porta da Bertrand, editora de Aquilino. Reunia-se nestes locais a famosa tertúlia figurada na pintura de Abel Manta, composta por Aquilino Ribeiro, Pulido Valente, Carlos Olavo Ramada Curto, Ribeiro dos Santos, Mário de Alenquer, Lopes Graça, Manuel Mendes, Sebastião Costa, Câmara Reis, Abel Manta e Alberto Candeias. Os temas abordados nessas conversas animadas variavam entre a recorrente crise política do País e do Mundo, e a cultura daqueles tempos.

O segundo casamento

Em Junho 1929, casa pela segunda vez, com D. Jerónima Dantas Machado, filha de Bernardino Machado, presidente da Republica deposto por Sidónio Pais, exilado em Paris. O consórcio teve lugar na Mairie De Montrouge e seguem depois para o sul de França, Ustaritz e em seguida Baiona. Nesta última cidade que em Abril de 1930, nasce o seu único filho deste matrimónio, Aquilino Ribeiro Machado. Entretanto em Portugal, Aquilino Ribeiro é julgado e condenado à revelia pelo Tribunal da Ditadura Militar que governa o País. Ainda no mesmo ano publica O Homem Que Matou O Diabo, um romance que dedica à sua esposa. No ano seguinte, passa a residir com a família na Galiza, primeiro em Vigo, depois em Tui.

terça-feira, 27 de abril de 2010

“Homem de Acção”

Já em Portugal, Aquilino Ribeiro, encontra-se dividido entre a escrita ficcional e a escrita cronista para a imprensa, o trabalho de professor no Liceu Camões, onde permanece durante três anos, e posteriormente, o cargo de segundo bibliotecário na Biblioteca Nacional a convite de Raul Proença. Este posto dá-lhe a possibilidade de alimentar o seu gosto pelo livro antigo.
Para além disso, em conjunto com colegas de trabalho, continua a desenvolver uma actividade cívica que vai ter a sua expressão mais visível na revista Seara Nova, publicação preponderante quer na difusão dos ideais republicanos quer mesmo no evoluir da vida política da I Republica. Mostrando mais uma vez a sua faceta de “Homem de Acção”, Aquilino manifesta-se em 1927, na revolta contra a ditadura militar consequente ao golpe de 28 de Maio de 1926. Devido a esta manifestação é demitido da Biblioteca Nacional e refugia-se em Paris. Regressa a Portugal, refugiando-se na Soutosa. Morre a sua primeira esposa Grete Tiedemann. Em 1928, envolve-se numa acção anti-regime do Regimento de Pinhel, mas é capturado e levado para a prisão de Fontelo em Viseu. Consegue novamente evadir-se, esconde-se nas serras beirãs e após jornadas difíceis chega a Paris.

Entre Paris e Alemanha

Em 1908, já em Paris, Aquilino Ribeiro inscreve-se no curso de Filosofia de Sorbonne, onde tem a oportunidade de conhecer mestres como, George Dumas, André Lalande, Levy Bruhl, Durckeim, mas também contacta com a intelectualidade portuguesa que por motivos políticos se via forçada a viver fora de Portugal. Frequenta durante três anos a Faculdade de Letras de Sorbonne. No final de 1910, já proclamada a Republica, o escritor vem a Portugal. Mas logo regressa aos estudos. O curso, a política, os projectos editoriais que vai desenvolvendo com os companheiros de exílio, as crónicas que envia para Portugal, para publicação, nomeadamente na Ilustração Portuguesa e no jornal A Beira, a observação, as pesquisas de bibliófilo ainda lhe deixam tempo para escrever na biblioteca da Sainte Geneviève, perto de Sorbonne, o volume de contos Jardim das Tormentas. Durante esse período conhece Grete Tiedemann, uma alemã que viria a ser a sua primeira esposa. Em 1912, reside alguns meses na Alemanha, em Berlim e em Parchin. Ainda na Alemanha, casa com Grete em 1913. O casal regressa a Paris, onde naquele ano Aquilino estreia-se como novelista e publica Jardim das Tormentas, que dedica à sua esposa. Em 26 de Fevereiro de 1914, nasce o seu primeiro filho, Aníbal Aquilino Fritz Tiedemann Ribeiro. Em Agosto do mesmo ano, rebenta a I Guerra Mundial, Aquilino vê-se forçado a regressar a Portugal com a sua família mas ainda no mesmo ano volta para Paris.

Aquilino, o revolucionário.

Aquilino Ribeiro escrevia em conjunto com José Ferreira da Silva (ministro das Obras Públicas durante a I Republica), o folhetim “A filha do jardineiro”, uma ficção crítica às figuras do regime monárquico, a começar por D. Carlos e ao mesmo tempo de propaganda republicana.
Considerado, um verdadeiro “Homem de acção” que através da escrita e da participação em actividades, que mais tarde acabariam por levá-lo à cadeia.

De facto, em 1907, o escritor conhece Artur Augusto Duarte Luz de Almeida, fundador da Carbonária, ligando-se assim a esta sociedade secreta e como braço armado da Maçonaria, guarda no seu quarto na Rua do Carrião, dois caixotes com cargas explosivas. Em seguida devido ao mau manuseamento dá-se o rebentamento de explosivos guardados que provoca a morte de dois correligionários, Gonçalves Lopes (professor do liceu do Carmo) e Belmonte de Lemos (um adelo da Rua dos Franqueiros). Aquilino Ribeiro consegue sair ileso do seu quarto mas é detido e levado para a esquadra do Caminho Novo, a cadeia mais severa durante o regime franquista. A 12 de Janeiro de 1908, logra a evadir-se da prisão. Após viver durante alguns meses clandestinamente numas águas furtadas na Rua Nova do Almada em Lisboa, segue para Paris.