Excertos do discurso de Aquilino Ribeiro na Sociedade Portuguesa de Escritores, 1963

"Morro insatisfeito. A minha obra é imperfeita e bem o sinto". (...) "A Perfeição, materializada na obra humana, no livro, na estátua, na partitura, é uma hipérbole celeste. Nunca se consegue, e quando se julga conseguir é miragem." (...) "Cultivem a inquietação como uma fonte de renovamento. E, enquanto vivermos, façamos de conta que trabalhamos para a eternidade e que tudo o que é produção do nosso espírito fica gravado em bronzes para juízes implacáveis julgarem à sua hora".
in, Revista nº64 do Jornal do Fundão.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

O segundo casamento

Em Junho 1929, casa pela segunda vez, com D. Jerónima Dantas Machado, filha de Bernardino Machado, presidente da Republica deposto por Sidónio Pais, exilado em Paris. O consórcio teve lugar na Mairie De Montrouge e seguem depois para o sul de França, Ustaritz e em seguida Baiona. Nesta última cidade que em Abril de 1930, nasce o seu único filho deste matrimónio, Aquilino Ribeiro Machado. Entretanto em Portugal, Aquilino Ribeiro é julgado e condenado à revelia pelo Tribunal da Ditadura Militar que governa o País. Ainda no mesmo ano publica O Homem Que Matou O Diabo, um romance que dedica à sua esposa. No ano seguinte, passa a residir com a família na Galiza, primeiro em Vigo, depois em Tui.

terça-feira, 27 de abril de 2010

“Homem de Acção”

Já em Portugal, Aquilino Ribeiro, encontra-se dividido entre a escrita ficcional e a escrita cronista para a imprensa, o trabalho de professor no Liceu Camões, onde permanece durante três anos, e posteriormente, o cargo de segundo bibliotecário na Biblioteca Nacional a convite de Raul Proença. Este posto dá-lhe a possibilidade de alimentar o seu gosto pelo livro antigo.
Para além disso, em conjunto com colegas de trabalho, continua a desenvolver uma actividade cívica que vai ter a sua expressão mais visível na revista Seara Nova, publicação preponderante quer na difusão dos ideais republicanos quer mesmo no evoluir da vida política da I Republica. Mostrando mais uma vez a sua faceta de “Homem de Acção”, Aquilino manifesta-se em 1927, na revolta contra a ditadura militar consequente ao golpe de 28 de Maio de 1926. Devido a esta manifestação é demitido da Biblioteca Nacional e refugia-se em Paris. Regressa a Portugal, refugiando-se na Soutosa. Morre a sua primeira esposa Grete Tiedemann. Em 1928, envolve-se numa acção anti-regime do Regimento de Pinhel, mas é capturado e levado para a prisão de Fontelo em Viseu. Consegue novamente evadir-se, esconde-se nas serras beirãs e após jornadas difíceis chega a Paris.

Entre Paris e Alemanha

Em 1908, já em Paris, Aquilino Ribeiro inscreve-se no curso de Filosofia de Sorbonne, onde tem a oportunidade de conhecer mestres como, George Dumas, André Lalande, Levy Bruhl, Durckeim, mas também contacta com a intelectualidade portuguesa que por motivos políticos se via forçada a viver fora de Portugal. Frequenta durante três anos a Faculdade de Letras de Sorbonne. No final de 1910, já proclamada a Republica, o escritor vem a Portugal. Mas logo regressa aos estudos. O curso, a política, os projectos editoriais que vai desenvolvendo com os companheiros de exílio, as crónicas que envia para Portugal, para publicação, nomeadamente na Ilustração Portuguesa e no jornal A Beira, a observação, as pesquisas de bibliófilo ainda lhe deixam tempo para escrever na biblioteca da Sainte Geneviève, perto de Sorbonne, o volume de contos Jardim das Tormentas. Durante esse período conhece Grete Tiedemann, uma alemã que viria a ser a sua primeira esposa. Em 1912, reside alguns meses na Alemanha, em Berlim e em Parchin. Ainda na Alemanha, casa com Grete em 1913. O casal regressa a Paris, onde naquele ano Aquilino estreia-se como novelista e publica Jardim das Tormentas, que dedica à sua esposa. Em 26 de Fevereiro de 1914, nasce o seu primeiro filho, Aníbal Aquilino Fritz Tiedemann Ribeiro. Em Agosto do mesmo ano, rebenta a I Guerra Mundial, Aquilino vê-se forçado a regressar a Portugal com a sua família mas ainda no mesmo ano volta para Paris.

Aquilino, o revolucionário.

Aquilino Ribeiro escrevia em conjunto com José Ferreira da Silva (ministro das Obras Públicas durante a I Republica), o folhetim “A filha do jardineiro”, uma ficção crítica às figuras do regime monárquico, a começar por D. Carlos e ao mesmo tempo de propaganda republicana.
Considerado, um verdadeiro “Homem de acção” que através da escrita e da participação em actividades, que mais tarde acabariam por levá-lo à cadeia.

De facto, em 1907, o escritor conhece Artur Augusto Duarte Luz de Almeida, fundador da Carbonária, ligando-se assim a esta sociedade secreta e como braço armado da Maçonaria, guarda no seu quarto na Rua do Carrião, dois caixotes com cargas explosivas. Em seguida devido ao mau manuseamento dá-se o rebentamento de explosivos guardados que provoca a morte de dois correligionários, Gonçalves Lopes (professor do liceu do Carmo) e Belmonte de Lemos (um adelo da Rua dos Franqueiros). Aquilino Ribeiro consegue sair ileso do seu quarto mas é detido e levado para a esquadra do Caminho Novo, a cadeia mais severa durante o regime franquista. A 12 de Janeiro de 1908, logra a evadir-se da prisão. Após viver durante alguns meses clandestinamente numas águas furtadas na Rua Nova do Almada em Lisboa, segue para Paris.

quarta-feira, 24 de março de 2010

De traquina a escritor

Aquilino Gomes Ribeiro nasceu a 13 de Setembro de 1885, em Carregal de Tabosa, concelho de Sernancelhe, filho de Mariana do Rosário Gomes e de Joaquim Francisco Ribeiro.
Embora os pais desejassem que o filho enveredasse pelo sacerdócio, este, enquanto criança, era considerado travesso e consta que ainda hoje se contam histórias sobre as suas traquinices.
Dez anos, após o seu nascimento, Aquilino entra no Colégio da Senhora da Lapa, onde conclui a 4ª classe.
Em 1900, é admitido no Colégio Roseira em Lamego, dois anos mais tarde vai para Viseu estudar filosofia e a 16 de Outubro transfere-se para o seminário de Beja para estudar Teologia. Em 1904 é expulso do mesmo por insubordinação.
Mas foi em 1906 que Aquilino Ribeiro foi viver para Lisboa onde iniciou a sua vida de escritor e jornalista.